quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Caraúbas

O sertão encantado das caraubeiras

REGIÃO OESTE

Praça Reinaldo Fernandes Pimenta.

“Caraúbas, Passargada dos meus oito anos,
Terra dos meus primeiros alumbramentos,
Tão pequena que eras, mas tão grande,
Na minha geografia de menino”.

(Deífilo Gurgel)

Como num canto laudatório à sua terra, os versos do bardo representam a mais perfeita tradução da beleza parnasiana desse sertão encantado. Pela sua beleza rusticamente sertaneja, Caraúbas causa alumbramentos instantâneos naqueles que se aventuram numa visita descabida a região do Médio Oeste potiguar. A beleza simples das ruas bem cuidadas, aliada ao acolhimento do povo, cria uma atmosfera familiar como se o poeta estivesse em cada recanto de sua Passargada.

Caraúbas é um dos berços da família Gurgel, radicada na região desde os tempos de Dona Quitéria Ferreira de São Luís, filha do Coronel Vicente Gurgel, vindos de Aracati, no Ceará, e de tradicional família cearense.

Mas, a cidade também é povoada pelos reconhecíveis “Cabocos” com suas feições indígenas, moradores dos sítios Chachoeira, Apanha-Peixe e Mirandas. Caboclo é a miscigenação de índios com brancos. Porém, em Caraúbas os cabocos são conhecidos como descendestes de Leandro Bezerra, fundador do município.

Segundo o historiador Raimundo Soares de Brito, em seu livro “Caraúbas Centenária” (Fundação Vingt-Un Rosado), Leandro Bezerra era sobrinho do Tenente-General Francisco de Souza Falcão, da Província do Cabo, em Pernambuco.

Essas famílias edificaram terras na fazenda “Cachoeira”, que em pouco tempo tornou-se uma comunidade de pessoas vinda da cidade do Cabo. Portanto, “cabocos” é uma corruptela para identificar os descendentes daqueles que vieram do Cabo.

Origens caraubenses

A magestosa Caraúbas (jacarandá copaia), uma árvore da família das bignoniáceas.

A origem do nome “Caraúbas” provém de uma densa mata de caraubeiras, árvore de casca amarga e folhas amarelas, existente ao longo de um afluente do rio Apodi. Em 1924, o pesquisador e jornalista Manoel Dantas escreveu em seu livro “Homens de Outrora” (Editora Sebo Vermelho): “Á margem do rio Apodi, eram tantas as caraúbas que davam sombra e ostentavam um cerne gigantesco que os viajantes, nas suas jornadas, marcavam sempre um ponto de descanso na várzea das caraúbas, nome que passou a município e a cidade que hoje se ergue, com seus casarios regulares e bem tratados, no meio de extensos tabuleiros.”

Conforme Manuel Dantas, quando os primeiros cabocos chegaram à região, os índios Paiacus chamavam o lugar de “Carahu-mba” (fruta da casaca negra). Não demorou muito para que as terras fossem chamadas de “Várzea das Caraúbas” e, mais tarde, apenas como Caraúbas, que passou a ser distrito de paz, arrabalde e município.

Hoje, sabe-se que Caraúbas (jacarandá copaia) é uma árvore majestosa da família das bignoniáceas. Ainda hoje, as caraubeiras são vistas pela cidade, dando sombra para uma conversa demorada aos devotos de São Sebastião.

Ao entardecer, é notório o aroma selvagem das Juremas secas na caatinga abrasadora, enquanto o vento do oeste vem mansamente amenizando o calor intenso do meio dia. Cadeiras na calçada dão vida às conversas de amigos, uma tradição viva que Seu Dôdo faz questões de preservar.

Por toda parte pode ser visto fragmentos de beleza num sertão bucólico, onde o folclorista Deífilo Gurgel, um dia, fez deste chão sua oficina de poesia, brotando lembranças da sua geografia de menino.

Potencial Turístico Sertanejo

Antiga estação ferroviária que se transformou em Casa de Cultura do município.

Caraúbas tem um potencial turístico muito promissor e pouco explorado, pois é roteiro alternativo para aqueles aventureiros que querem descobrir as belezas dos sertões, fazendo eco-turismo.

Na região, há uma intensa exploração do “turismo sertanejo”, como acontece em Martins e na Chapada do Apodi, com dezenas de agências levando, na sua maioria norte-riograndenses que querem descobrir o próprio Estado, praticando o “turismo interno”.

Arquitetura preserva a história

Sede da Prefeitura Municipal.

Construído em 1929, o prédio da Estação Ferroviária transformou-se em uma Casa de Cultura com o apoio do Governo do Estado do RN para ser utilizada no desenvolvimento da cultura local, onde os artistas podem mostrar a essência da arte popular caraubense.

O Mercado Central, edificado em 1917, bem preservado e com uma intensa vida comercial, nos remete a um passado glorioso quando Caraúbas começou a ser vilarejo. Aos sábados, a tradicional feira em torno do Mercado atrai gente de todos os lados, movimentando a economia do município.

Era na calçada do mercado que nasciam as idéias políticas entre os caraubenses mais ilustres, enquanto degustavam uma talagada de pinga na mercearia de Tiãozinho, que até hoje mantém seu comércio aberto.

As casas do “Quadro”, conhecido espaço onde tradicionais famílias caraubenses moram, em frente à igreja de São Sebastião, as casas bem cuidadas do “Beco Velho” e os casarios da Praça Reinaldo Fernandes Pimenta, completam o conjunto arquitetônico secular da cidade.

Olho D’água do Milho e escrituras rupestres

Piscinas termais do Olho D'água do Milho.

No Olho D’água do Milho, a 6 km do centro urbano, há um hotel em péssimas condições, em total abandono, onde antes já teve alguns serviços de hospedagens. A fonte termal, que lá existe e jorra permanentemente de um lençol localizado a 200 metros de profundidade, é límpida, incolor e não tem cheiro. Conforme uma placa de aviso no local, o banho nestas águas pode curar os males do corpo e da alma.

Próximo ao Olho D’água do Milho, no meio da caatinga, há um sítio arqueológico com inscrições rupestres. Provavelmente, as escrituras foram deixadas pelos primeiros Paiacus, nação indígena que habitou esse berço de sertão, os quais deixaram suas impressões gravadas nas pedras de um serrote.

Com 30 minutos de caminhada pelo sertão adentro, um morador do lugar pode levar o visitante até um local conhecido por “Pedras dos Índios”, onde podem ser apreciadas centenas de inscrições nas pedras.

A imponência da Fazenda Sabe Muito

Casa Grande da Fazenda Sabe Muito.

A enorme casa, vista da beira da estrada entre os municípios de Apodi e Caraúbas, sobressai em meio à paisagem seca da caatinga no Médio Oeste. A casa grande da propriedade, encravada em um outeiro, foi construída em 1868. Até hoje, não se tem notícias sobre o reconhecimento histórico-arquitetônico, através de processo de tombamento em nível estadual, para averiguar a importância da construção.

A fazenda “Sabe Muito” é o coração da cidade de Caraúbas, a qual foi erguida no final do século XVII, quando vieram para o Brasil alguns portugueses, oriundos da Vila de Faral, província do Douro. Segundo Epitácio Fernandes Pimenta, um índio Payacu, amigo do português Antônio Coutinho, havia encontrado um olho d’água nas imediações da fazenda.

“Antônio Coutinho perguntou se o índio sabia mesmo onde se achava água, o mesmo respondeu: ‘Eu sabe muito’. Coutinho, como todo bom português, conhecia um pouco de sua língua, achou interessante a maneira do Paiacu falar e daquele dia em diante deu o nome dessas terras de Fazenda Sabe Muito”, escreveu Epitácio Pimenta no livro Caraúbas Centenária,

A casa é rústica, mas impressiona pela grandeza que foi construída. É a maior casa do município e parece uma fortaleza, com suas possantes paredes de quatro enormes tijolos que sustentam uma cumeeira com altura de 50 palmos de altura, além de 27 portas e 41 janelas abrigando 20 cômodos. Atualmente, a casa grande da Fazenda Sabe Muito está abandonada, servindo de refúgio para morcegos, ratos e outros animais silvestres.

Atualmente, o Sabe Muito pertence a Jonas Armagílio de Oliveira e Joana Eulália de Oliveira que comprou a propriedade e se estabeleceram na região no ano da graça de 1960. Muito cortês, os descendentes moram ao lado e podem mostrar a casa para o visitante. Nos fundos da casa grande, há uma casa de farinha com os equipamentos velhos e sem uso, mas ainda existe a prensa, o forno e uma grande moenda.

No ermo dos alpendres solitários da fazenda, uma lenda se espalha feito vento ligeiro, contando que existe uma botija de ouro sob os tijolos da imensa sala da casa. A moradora Edileuza de Oliveira Silva afirmou ter escutado a história de um antigo morador da região, mas nunca se interessou em escavar a área.

Edileuza confirma que vem gente "de todo canto" para visitar a casa. Os nomes de inúmeros visitantes incultos estão inscritos com giz nas paredes dos cômodos da fazenda, demonstrando pouca importância pela preservação do lugar.

Casa de Farinha

Casa de Farinha secular, num dos cômodos do Sabe Muito.

A casa de farinha guarda traços dos hábitos dos antigos coronéis sertanejos quando castigava escravos preguiçosos. Grandes armadores, colocados no alto das paredes, são sinais de que o lugar teria sido cenário de torturas físicas, quando as escravas eram colocadas de cabeça para baixo para receber chicotadas. “Elas deveriam ficar nuas para ter o castigo”, ressaltou Edileuza.

Longe das lendas e com toda sua história impregnada nas suas grossas paredes, a Fazenda Sabe Muito permanece relegada ao abandono, disposta a ação dos vândalos e do tempo. A solução é esperar que o órgão responsável pelo patrimônio histórico e arquitetônico do Rio Grande do Norte, a Fundação José Augusto, faça um levantamento para o processo de tombamento do Sabe Muito.

A Fazenda Pedra Pintada e os cabras de Lampião

Fazenda Pedra Pintada.

O fazendeiro João Amorim tem 84 anos de idade e vive nas cercanias de Caraúbas desde 1946, “sem nunca ter arredado o pé das terras para lugar nenhum” como ele mesmo diz ao visitante que chega à Fazenda Pedra Pintada e se senta no alpendre da casa grande para beber um café passado na hora.

Nessas ocasiões, João Amorim aproveita para contar histórias sem fim sobre como sobreviver de agricultura na seca e a passagem de Lampião pelo município, quando o cangaceiro marchava em direção à Mossoró.

Seu João Amorim conta que quando Lampião se direcionava à Mossoró não quis passar pelas terras do coronel Quincas Saldanha, conhecido na região como “Gato Vermelho”, velho inimigo de cangaceiros, muito temido pela sua valentia e crueldade.

O capitão Lampião foi avisado por Marcilon Leite que o bando cruzaria as terras de Quincas Saldanha e o Rei do Cangaço resolveu alterar a rota por temor e respeito ao coronel.

A mudança de direção fez com que a tropa de cangaceiros fizesse uma marcha demorada, chegando a Dix-sept Rosado através da cidade de Felipe Guerra. Por causa da longa caminhada, o trem já havia partido em direção à Mossoró.

“O desvio das terras do Gato Vermelho deu tempo suficiente para os passageiros avisarem aos mossoroenses da chegada de Lampião. Com isso, foi possível armar várias trincheiras na cidade, levando o bando à derrota histórica”, revelou João Amorim, com toda segurança naquilo que dizia.

Sobrevivendo em tempos de estiagem

Seu João Amorin cuidando do seu rebanho, na Fazenda Pedra Pintada.

As João Amorim não gosta da lembrança de longos períodos de seca quando a terra esturricada pela estiagem não serve para o plantio. “Eu tenho dois açudes e dezenas de barreiros na fazenda. Um açude e todos os barreiros já secaram. Só sobrou o açude grande com água e mesmo assim é uma água barrenta que só serve para o gado”, disse o velho agricultor, ressaltando que já se passou o segundo ano (2006-2007) de inverno ruim.

Conforme João Amorim, os sinais da natureza indicam que esse ano o sertão terá um bom inverno. Em noites sem lua, os relâmpagos e trovões nas cabeceiras das serras anunciam a temporada de chuva chegando ao longe. “Os tejuaçus já estão saindo da toca e já estou vendo as abelhas procurando flor. Acho que até o final de fevereiro o inverno chega”, explica.

Na época da seca, mesmo com todas as dificuldades, João Amorim cria gado e bode em suas terras, de onde tira o leite e a carne para o sustento da fazenda. Quando estiver em pleno inverno, o fazendeiro afirma que será possível plantar batata doce, feijão, mandioca, milho, capim para o gado, entre outras culturas de subsistência.

João Amorim criou 14 filhos na Fazenda Pedra Pintada e não pretende sair de lá para lugar nenhum. “Só saio daqui quando estiver morto”, anunciou.

Devoção e festa para São Sebastião

Igreja Matriz de São Sebastião.

Em 1791, uma grande seca assolou o sertão ameaçando exterminar o gado da região. Leandro da Cunha, devoto de São Sebastião, prometeu construir uma capela para o santo se surgisse água franca para a manutenção de sua fazenda. Cavando então um poço perto do riacho a água jorrou em abundância e nunca mais secou.

A partir desse momento, o poço passou a ser chamado de Poço de São Sebastião, que existe até hoje em frente à matriz da cidade. Construída a capela, as romarias e as festas religiosas realizadas atraíam para o local grande número de fiéis, que vinham até mesmo dos mais distantes sertões.

A devoção por São Sebastião continua até hoje, quando os caraubenses comemoram os 150 anos de evangelização em louvor ao santo padroeiro. De 10 a 20 de janeiro, Caraúbas vive seu momento maior de fé e tradição de um dos maiores eventos sócio-religioso do interior do Estado do Rio Grande do Norte. No último dia dos festejos, uma grande procissão segue o andor com o santo percorrendo as principais ruas da cidade e encerrando na Igreja Matriz.


Mercado Público Municipal.
-
Chave da Fazenda Sabe Muito.
-
Casas colados do "Quadro".
-
Casa de dona Quitéria Ferreira de São Luís, filha do Coronel Vicente Gurgel.
-

Casa Grande da fazendo do coronel Quincas Saldanha, o Gato Vermelho.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Antônio Martins

Um oásis no sertão potiguar

REGIÃO OESTE

Vista parcial da cidade

-
Singrando a estrada em direção ao sertão potiguar, no pé da soleira da Serra de Martins, a pequena cidade de Antônio Martins é um oásis em pleno deserto catingueiro, como se a abundância das águas das piscinas do “Terminal Turístico” trouxesse sempre uma brisa fresca para abrandar a cidade, abafada pelo tórrido calor em tempos de verão.

A pequena Antônio Martins se prepara para receber o turista cheia de atrações para o deleite do visitante e para o orgulho de seus moradores mais afoitos. Do alto do serrote, o Nincho de São José é um mirante feito para contemplar a paisagem paradisíaca da cidade, enquanto se observa as horas mortas da tarde que anunciam mais um pôr-do-sol no sertão.

Um dia, o município já foi conhecido como Vila de Boa Esperança, no final do século dezenove, quando Justino Ferreira de Souza fundou o lugar, construindo a primeira moradia de pau-a-pique. Foi o mesmo Justino quem construiu o cemitério e deu inicio a edificação da Capela de Santo Antônio, no ano de 1901.

De acordo com Câmara Cascudo, no livro “Nomes da Terra” (reeditado pela Editora Sebo Vermelho, em 2002), em 30 de dezembro de 1943, o povoado de Boa Esperança muda de nome. A partir de então, o lugar passou a se chamar Vila de Demétrio Lemos, por força dos inúmeros benefícios que o Coronel Rego Lemos prestou ao município de Martins.

O atual nome da cidade, Antônio Martins, desmembrada oficialmente de Martins em 1963 pelo então governador Aluízio Alves, foi uma homenagem à Antônio Martins Fernandes, médico e deputado, que teve sua atuação política reconhecida pelas benfeitorias prestadas à região.

Sobre o homem Antônio Martins, Cascudo escreveu: “Defendeu com entusiasmo vários projetos proveitosos ao oeste do Rio Grande do Norte. Era de trato acolhedor e amável, e de comunicante simpatia”.

Beleza rústica desconhecida
-
Nincho de São José.

Antônio Martins está localizado na região do Médio Oeste potiguar, a 360 quilômetros da capital do Estado. A economia do município é baseada na apicultura com uma boa produção de mel de abelha puro, colhido com o néctar de rosas brejeiras, brotadas na beira do açude do Tamanduá.

A beleza da região é contemplada com o acolhimento dos antônio-martinenses, povo cheio de fé em Santo Antônio, padroeiro do município. Nas festas juninas, a cidade se enche de luz para louvar os santos e promover várias atrações culturais.

Nessa época, quando o inverno é rigoroso e o verde na caatinga alegra o coração do sertanejo, a cidade festeja com muita quadrilha, encontro de violeiros, comida típica e shows regionais.

Quando o visitante deixa a cidade, tem a certeza que o sertão é feito das coisas simples, como se os ventos agresteiros limpassem os olhos com o perfume das juremas-pretas em flor.

De longe, a saudade de Antônio Martins é despertada pelo aboio triste de um vaqueiro, ecoando na lembrança do turista as maravilhas de um sertão encantado.
-
Clube de Lazer municipal aberto ao público.

Igreja Matriz de São José.

Casas mais antigas da cidade.
-
Nincho de São José.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Acari

A vedete catingueira do Seridó

REGIÃO DO SERIDÓ
-

Igreja matriz de Nossa Senhora da Guia.

Quando o carro aponta no alto do quilômetro duzentos da BR 407, depara-se com Acari, uma típica cidade seridoense encravada nas encostas ocidentais da Chapada Borborema.

Considerada a cidade mais asseada do Brasil, Acari é uma das mais antigas cidades seridoenses e carrega a cultura de seu povo entranhada em cada recanto de suas casas coloniais, onde são cultuados os costumes do sertão.

A tradição de ornar a cidade, feita uma vedete do teatro de revista, vem do tempo do império, quando foi criado uma resolução obrigando a população limpar as frentes de suas casas, durante as festas do município, sob pena de pagar duzentos réis para as despesas da Câmara Municipal cada vez que faltasse a limpeza.

Com o tempo, a obrigação tornou-se consciência dos acarienses que se orgulham em morar na “cidade mais limpa do Brasil”.
-
Origens acarienses
-
Acari é nome de um peixe ligeiro que corre em água doce, de escamas ásperas com um palmo de comprimento, muito semelhante ao bagre. A farta presença do peixe nas águas do Rio Acauã atraiu os índios Cariris, os primeiros habitantes, que deram nome ao lugar.

De acordo com o escritor Manoel Dantas, no livro “Homens de Outrora” (Irmãos Pogetti Editora, RJ 1941), a palavra Acari é de origem Tupi, vem de “caraí”, aquele que arranha, alusão as asperezas do peixe.

No início do século XVIII, quando começou a colonização do Seridó com a expansão das fazendas de gado, o sargento-mor Manuel Esteve de Andrade fundou um povoado, erguendo uma Capela na localidade consagrada a Nossa Senhora da Guia, que se tornou a matriz da cidade algum tempo depois.

No ano da graça de 1835, o povoado desmembrou-se de Caicó e tornou-se a mais nova cidade do Rio Grande do Norte.

Conjunto histórico e arquitetônico

Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

A cidade oferece um importante acervo religioso e arquitetônico do do início do século XVIII a ser visitado. Nessa época, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi erguida com característica barroca.

Uma preciosidade religiosa e a primeira igreja a ser edificada na região. Batizada de Nossa Senhora dos Pretos do Rosário, uma de suas principais características é o retábulo todo em fios dourados, com florais, cestarias e curvas.

Complementando o sítio religioso está a Matriz de Nossa Senhora da Guia, que é uma das maiores do Estado e que apresenta um estilo eclético, reunindo ao lado do romantismo, o barroco e o rococó.

A matriz foi edificada em 1863 e idealizada pelo primeiro pároco da cidade, o acariense Thomaz Araújo. Os sobrados do Padre Modesto, a Capela de Nossa Senhora de Lurdes e as casa da Vila Dona Mariana completam o roteiro pela arquitetura do município.

Museu do Sertanejo.

O Museu do Sertanejo é outro exemplo do acervo arquitetônico colonial acariense. O casarão guarda o estilo característico do segundo reinado, quando foi construído para ser o prédio da Cadeia e Intendência.

Em estilo neoclássico, o Museu do Sertanejo preserva no seu interior verdadeiras relíquias, o que há de mais expressivo na cultura sertaneja nordestina, reunindo peças que contam a história das duas antigas fontes econômicas do município: a criação de gado e o cultivo do algodão.

Dentro do casarão do Museu do Sertanejo também acontecem eventos culturais, como lançamento de obras literárias, exposições temporárias, o Auto de Natal, o pastoril, o coral infantil e oficinas educativas.

O espaço interno foi cuidadosamente reformado para passar ao visitante a impressão de estar participando do dia-a-dia do sertanejo nordestino. A Igreja do Rosário, a Matriz de Nossa Senhora da Guia e o Museu do Sertanejo foram tombados pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1964.

A beleza exuberante do Açude Gargalheiras

Visão panorâmica do Açude Gargalheiras.

Durante milhões de anos, a natureza espremeu os serrotes formando uma garganta afunilada num estreito vale, onde desemboca o Rio Acauã. A mão do homem represou o rio e formou a enorme barragem Marechal Dutra, mais conhecido como Açude Gargalheiras, um dos principais pontos turísticos dos roteiros turísticos que levam ao Seridó e um dos mais belos cartões postais do Rio Grande do Norte.

Com capacidade para armazenar 40 milhões de metros cúbicos d’água, o Açude Gargalheiras é o mais tradicional açude do Estado, atraindo milhares de turistas para Acari que desejam apreciar o espetáculo da queda d’água na parede do açude quando está sangrando.

Com suas águas limpas, a barragem ainda oferece banhos sem fim em águas mansas, além de peixe e camarão para uma degustação sem pressa enquanto se delicia com a paisagem única.

Com 654 metros de altura, A Serra Bico da Arara atrai turistas aventureiros para observar a revoada de milhares de andorinhas migratórias vindas da África, de março a setembro de cada ano.

Outros pontos turísticos, como as serras do Pai Pedro e da Lagoa Seca, também fazem parte do roteiro, assim como as formações rochosas naturais que brincam com a imaginação do visitante, como as pedras da Santa, do Avião e do Sapateiro.

No Poço do Arthur, são encontradas inscrições rupestres de tradição Agreste, datadas de dez mil anos.
-
Pega de Boi no Mato
Resgatando uma Tradição Seridoense

Vaqueiros seridoenses e suas armaduras de couro.

O mês de novembro marca o início da temporada sem chuva no sertão, onde a terra esturricada pela seca é cenário para uma das mais tradicionais manifestações nordestina: a “Pega do Boi no Mato”, quase esquecida pela modernidade.

Pensando em preservar a memória do sertanejo, valorizando a figura do vaqueiro, a Fazenda Pitombeira, em Acari, realiza todo ano a “Pega de Boi no Mato”, o “Encontro dos Vaqueiros da Ribeira do Acari” e a “Missa do Vaqueiro”.

Tecendo comentários sobre a Pega de Boi no Mato, Câmara Cascudo escreveu no livro Vaqueiros e Cantadores: “Prova legítima de habilidade e força, torneio sagrador de famas, motivo de cantadores que imortalizaram a façanha”.

A religiosidade forte do sertanejo está presente na “Missa do Vaqueiro”, celebrada no Sítio Bico da Arara, nas cercanias de Acari. Na hora do ofertório, os vaqueiros fazem doações de peças usadas como gibão, esporas, matulão, cela, chapéu, arreios e outros apetrechos pessoais para o Museu do Vaqueiro da Ribeira do Acari.

O momento lúdico do evento é quando os vaqueiros entoam seus aboios, ecoando nas caatingas seridoenses um canto de lamento e bravura.

Artistas do Gargalheiras

O santeiro e escultor Ambrósio.

Além do tradicional artesanato feito de renda, tapeçaria e bordado, Acari tem grandes artistas plásticos, criando peças únicas que saltam os olhos dos marchantes atentos e colecionadores de arte.

O santeiro Ambrósio trabalha a madeira onde Nossa Senhora de Santana é esculpida em todos os detalhes, como se seus pecados fossem redimidos pela santa. Ambrósio também reforma móveis coloniais, oratórios barrocos e outros santos.

Dimauri e suas esculturas em ferro.

Juntando sucatas e metais velhos, o ferreiro Dimauri transforma o ferro retorcido em esculturas expressionistas, apresentando imagens do sertão em sua arte. No seu atelier, o visitante pode apreciar esculturas de ferro mostrando as cenas do cotidiano sertanejo.

Um carro de boi carregando um agricultor e uma criança, um vaqueiro derrubando o boi no meio da caatinga ou uma família reunida em torno da mesa de jantar, entre outras peças, fazem do atelier de Dimauri uma visita obrigatória.

Dimas, na beira do Açude Gargalheiras, com sua escultura em pedra.

Transformando rochas em arte, o escultor Dimas Ferreira trabalha as margens do Açude Gargalheiras, onde encontra a pedra bruta de granito para suas esculturas.

Nascido e criado em Acari, Dimas aprendeu a fazer sua arte quando trabalhava como “quebrador de pedras” para fazer paralelepípedos. “Um dia vi uma pedra que dava para fazer uma cabeça de gente. Fiz e deu certo”, confessa.

Em junho de 2006, Dimas Ferreira ganhou o Prêmio Cultural Diário de Natal, recebendo o troféu “O Poti” no palco do Teatro Alberto Maranhão, em Natal, pelo reconhecimento de sua obra.

Dimas é um autodidata. Há 16 anos no ofício, ele nunca tinha visto ninguém esculpir peças em outros materiais. Por sua atividade incomum, o artista é obrigado a confeccionar suas próprias ferramentas de trabalho. Com base no formato que tem a pedra, Dimas vai esculpindo o granito, buscando formas de animais ou pessoas.

Em outubro do ano passado, Dimas levou um São Francisco das Chagas esculpido na rocha bruta do Gargalheiras para Brasília, a convite do senador Garibaldi Filho, a fim de participar da terceira edição da exposição “Artistas Brasileiros – Novos Talentos”, no Salão Negro do Congresso Nacional.

A exibição contou com esculturas de artistas de todas as regiões brasileiras, indicados pelos parlamentares de seus respectivos Estados.

Açude Gargalheiras.

Conjunto arquitetônico histórico de Acari.

Pega de boi na caatinga, na Fazenda Pitombeira.

Casas históricas e a "lotação", meio de transporte para sítios e cidades vizinhas.

domingo, 19 de outubro de 2008

Currais Novos

A flor brejeira do Seridó

REGIÃO DO SERIDÓ

Igreja Matriz de Nossa Senhora de Santana
-
Só quem sobe a Serra do Doutor, rasgando a estrada até chegar à cabeceira da Chapada da Borborema e deixando para trás os serrotes agrestes no horizonte, consegue ver uma flor brejeira brotar na terra seca em meio ao mato ralo da caatinga e dos facheiros, onde começa o sertão. Naquela terra, onde é possível ouvir dos velhos vaqueiros o aboio, o lamento do sertanejo, principia o Sertão do Seridó.

Da paisagem sertaneja e seu mato miúdo, nada mais se tem além de um sol abrasador. Em Currais Novos, a vegetação é magra e o vento que foge das encostas das serras já não carrega a frescura que abranda o calor dos telhados.

Porta de entrada para a região do Seridó, Currais Novos desabrocha para o turismo com se fosse uma rosa bruta catingueira sentindo o cheiro da chuva na primeira florada.

Currais Novos é uma cidade com um potencial turístico ainda para ser lapidado, recheado de histórias e bravura entre índios e colonizadores. O município faz parte do chamado “Roteiro Seridó”, oferecendo várias opções de encantamento para o visitante.

História de Currais Novos
-
Vista parcial da cidade. Em primeiro plano, a Praça Cristo Rei.

Currais Novos está localizado na Região do Seridó, a 180 km de distância de Natal, seguindo pela BR 226. O município começou a se desenvolver a partir de 1940, quando foram descobertas grandes reservas de shellita, minério valioso, produzindo uma exploração em larga escala e iniciando o processo de imigração de garimpeiros e comerciantes.

Nesse período, destacou-se a figura histórica de Tomaz Salustino que, com seu espírito empreendedor, contribuiu ativamente para o progresso de Currais Novos. Com o advento da shellita a cidade cresceu, sua economia ampliou-se e a população aumentou substancialmente devido à chegada de pessoas que buscavam trabalho e negócio.

De acordo com material arqueológico encontrado na região, o índio já habitava o sertão há oito mil anos atrás. A presença do homem branco na área aconteceu por volta de 1688, quando o Governador Geral do Brasil mandou uma expedição à região com a finalidade de reprimir a revolta dos índios Canindés e Janduís (Guerra dos Bárbaros), iniciada no ano anterior, que o Governo da Capitania do Rio Grande do Norte não conseguiu debelar.

A expedição, comandada pelo paulista bandeirante Domingos Jorge Velho, atravessou o sertão do Acauã e alcançou a localidade onde nasceu a povoação de Currais Novos, cuja origem está ligada também ao período do Ciclo do Gado.

No livro “Nomes da Terra”, Sebo Vermelho Edições, o historiador Câmara Cascudo afirma que, no ano de 1687, Afonso de Albuquerque Maranhão tinha conseguido derrotar e fazer prisioneiro o chefe dos Canindés. Com o final dos combates, já no século XVII, muitos mercenários, capitães e soldados, passaram a ser lavradores, em sua maioria sem possuírem terras.

Conforme Cascudo, apenas em 1755 o povoamento começou a dar sinais de desenvolvimento com a presença do Coronel Cipriano Lopes Galvão, vindo de Igarassu, Pernambuco, onde casara com dona Adriana de Holanda e Vasconcelos, fixando residência na “Data do Totoró”, estendendo pela região do “São Bento” uma fazenda de gado.

“Na bifurcação dos rios Totoró e Maxinaré, confluência de vaqueiros, construiu, em 1760, uma casa e três novos currais, de pau-a-pique com troncos de aroeira, usados para o gerenciamento da criação, compra e venda do gado”, escreveu Cascudo.

O Coronel Cipriano Lopes Galvão morreu em 1764, deixando seis filhos.O primeiro de seus filhos, o Capitão-Mor Cipriano Lopes Galvão, proprietário do Sítio São Bento, a pedido do pai, constrói uma capela em honra a Sant’Ana, custeando e doando “meia légua de terra”, na ponta da Serra do Catunda, para patrimônio da santa.

Em 1808, devido ao desenvolvimento agropecuário, já havia outras famílias de colonizadores fixados na região, constituindo um povoado. Assim, em 26 de julho de 1808, concluída a capela, realizou-se a primeira procissão com a imagem de Sant’Ana (trazida do Recife), levada pelo Capitão-Mor, sua família, criados e amigos, do Totoró até a capela.

A herança de um povo guerreiro

Pedra do Cruzeiro, marco da religiosidade seridoense.

O povoado de Currais Novos participou ativamente da campanha abolicionista, com a ação efetiva de um núcleo da Sociedade Libertadora Norte-riograndense, tendo à frente Cipriano Lopes Galvão de Vasconcelos e Joventino da Silveira Borges.

A luta abolicionista, que durou vários anos e contou com a participação de muitos, deu resultado: Currais Novos libertou seu último escravo no dia 19 de março de 1988, antes da promulgação da Lei Áurea.

Currais Novos foi Distrito de Paz do município de Acari até o ano de 1890, quando, em 15 de outubro, foi elevado à condição de município autônomo e sua sede, à categoria de vila, sendo instalado a 6 de fevereiro de 1891. Em 29 de novembro de 1920, a vila é elevada à categoria de cidade.

O mundo subterrâneo da Mina Brejuí

Túneis da Mina Brejuí.

É preciso cruzar o Rio Maxinaré para percorrer um labirinto de túneis escuros na Mineração Brejuí, onde se alcança com a vista a schelita emanando das paredes úmidas.

Um banho de energização nas dunas de minérios, formadas pelos resíduos de calcita, quartzo, mica, berilo e scheelita, expurga as impurezas d’alma, como se os fragmentos dos cristais dessem vigor para seguir a jornada.

Sítio arqueológico do Totoró

Escrituras rupestres na Pedra Rasgada.

Ver o sertão é singrar o imenso juremal no sopé da serra de Santa’Ana até o sítio arqueológico Totoró e lançar o olhar nas grutas que preservam figuras rupestres de 12 mil anos, onde os indígenas, antigos moradores daquele pé de serra, deixaram registrados seus costumes e crenças.

Seguindo a trilha catingueira, o badalar da Pedra do Sino é ouvido a dois quilômetros de distância, como se indicasse a direção da Lagoa do Santo, lugar onde foram achados fósseis de animais pré-históricos.

Economia e vida currais-novense

Prefeitura Municipal de Currais Novos.

Com o passar do tempo, a vaquejada torna-se uma tradição para o município, atraindo sempre, inúmeros participantes e visitantes, sendo hoje uma das atrações do lugar.

A economia local é baseada na avicultura, agricultura, produção de mel de abelha, produção de leite de gado, extração de rochas ornamentais, ouro e feldspato.

O artesanato apresenta trabalhos bem elaborados com pedras extraídas do próprio município, além de confecções de jarros ornamentais e filtros de barro; tapetes de palha; peças de madeira; bordados à mão; ponto de cruz; macramé de renda e ponto paris; fabricação de doces e geléias.

O abastecimento d’água da cidade é garantido através da Adutora de Currais Novos, com captação na Açude Gargalheiras, em Acari. Os principais açudes do município são: Dourado, Totoró e Olho D’água dos Brandão, que juntos somam capacidade reservatória para 30 milhões de metros cúbicos d’água.

Atrações turísticas em Currais Novos

Tungstênio Hotel, o "Copacabana Palace" do Seridó.

Como uma flor brejeira, Currais Novos guarda suas belezas mais preciosas num lugar de difícil acesso conhecido como Os Apertados, um canyon cortado pelo Rio Picui entre as serras que dividem o Rio Grande do Note e a Paraíba, onde ainda é possível vislumbrar espécies de aves, répteis e alguns pequenos mamíferos nativos da caatinga.

Currais Novos é conhecido desde 1808, quando foi inaugurada a Capela de Sant’Ana e, próximo á capela, foram construídos currais de pau a pique, feitos de aroeira e que se tornaram ponto de convergência dos vaqueiros da região, para a troca e venda de gado, surgindo dessa estrutura o nome de Currais Novos.

No centro da cidade, as belezas dos casarões coloniais indicam a força econômica da schellita. A beleza da Igreja Matriz de Sant’Ana, a praça Cristo Rei, o Coreto Guarany, o Cruzeiro e o Hotel Tangstênio (considerado o Copacabana Palace do Seridó) são locais característicos de Currais Novos, que o turista não poderá deixar de visitar.

A Praça Cristo Rei é ponto convergente das pessoas nas noites de paquera onde o povo currais-novense recebe o visitante com um largo sorriso.

As festividades mais importantes do município são: Carnaxelita, Festa Junina, Forronovos e a festa da padroeira Nossa Senhora de Sant’Ana, que ocorre na segunda quinzena de julho.

Figuras rupestres, minas de schellita, trilhas ecológicas, festa de Sant’Ana, arquitetura antiga, queijo de coalho, entre outros atrativos, fazem de Currais Novos o lugar ideal para aqueles que querem sentir na pele a presença constante das mais legítimas tradições sertanejas.

Luzia Dantas, a Santeira Potiguar

A santeira Luzia Dantas e suas obras esculpidas em madeira.

-
A seridoense Luzia Dantas é a santeira mais importante do Rio Grande do Norte. Com seu acabamento minucioso, sua escultura em estilo barroco impressiona pelos detalhes, como se cada pedaço de imburana aceitasse o corte certeiro do seu canivete afiado, única ferramenta utilizada para dá forma à peça.

Nascida no sítio Rio Cachoeira, município de São Vicente, região do Seridó, ainda muito jovem dona Luzia Dantas talhava bonecas de madeiras para brincar, despertando o interesse dos parentes e moradores dos sítios vizinhos pelas “bonequinhas muito bem feitinhas”, como ela mesma diz.

Cansada das bonecas, a jovem Luzia evoluiu fazendo tipos populares sertanejos, carros de boi, cavalos, outros animais, cenas de casas de farinha, retirantes e, principalmente, os santos de devoção do povo nordestino como Sant’Ana, Nossa Senhora de Fátima, São Jorge com seu dragão, entre outros. “Nunca vi ninguém fazer santos de madeira naquele tempo. Tudo que faço, aprendi sozinha”, disse a santeira, demonstrando não ter sofrido influências de ninguém em sua arte.

“Suas peças são sempre bem-acabadas, lixadas, sem pintura e com dimensões quase perfeitas. Prefere os motivos regionais, mas já assina suas peças o que denota influência de colecionadores e valorização da própria Arte”, escreveu o artista plástico e crítico de arte, Dorian Gray Caldas, no livro “Artes Plásticas do Rio Grande do Norte”, sobre as esculturas de dona Luzia Dantas.

Aos setenta anos, a artesã mora em Currais Novos, onde desenvolve seu ofício e raramente consegue guarda uma de suas peças em casa, sendo constantemente visitada por pessoas de toda parte que desejam adquiri-las. Ela assina suas peças demonstrando a preocupação com a obra de arte única e a noção de referência para quem é colecionador.

Canyon dos Apertados.

Pedra do Sino, no sítio Totoró.

Mina Brejuí.

Praça em frente a rodoviária.

Pedra do Sino.

Janduís

Da terra dos Janduís
aos caminhos de São Bento do Bofete


REGIÃO OESTE

Vista aérea do centro urbano de Janduís.

Naqueles sertões, quem passa serelepe pela estrada em direção à Serra do Lima percebe a brisa catingueira trazendo todos os aromas da terra dos índios janduís, da nação Tarairiú, extintos depois de vários combates em defesa do seu habitat.

Situada na ribeira do Riacho dos Sacos, a cidade é encravada estrategicamente no cruzamento de vários caminhos entre o sertão do Rio Grande do Norte, da Paraíba e do Ceará, sendo núcleo convergente entre várias fazendas e os grandes centros urbanos.

É verdade que o município de Janduís não possui grandes monumentos ou lugares famosos para o turista visitar. Porém, o incentivo às manifestações culturais deu ao seu povo um talento inato para as artes, como se a identidade dos janduienses estivesse sempre ligada as suas tradições e seus costumes, sem intervenção externa.

Um dos grandes alumbramentos culturais da cidade fica por conta da Companhia Cultural Ciranduís e seu teatro mágico pelas ruas do município.

Desde cedo, o pequeno jaduiense aprende que durante a colonização do sertão, existia na região uma confederação de tribos indígenas, hostis à Coroa portuguesa.

Entre as nações indígenas, uma das mais destemidas era a dos Janduís, cuja denominação deriva do tupi “nhandu-í-a”, uma corruptela para “a ema pequena”. A ema seria o totem da tribo. Depois que os índios foram dizimados, surgiu o Sítio São Bento.

Conforme o historiador Luiz da Câmara Cascudo, em seu livro Nomes da Terra (editora Sebo Vermelho, 2002. Natal RN), a localidade ficou por muito tempo conhecida como São Bento do Bofete.

O nome do lugar deve-se ao fato de que, as feiras ali realizadas, sempre terminavam em tumultos, havendo uma farta distribuição de tabefes, pontapés e bofetões.

A fundação da povoação é atribuída a Canuto Gurgel do Amaral, dono da maior parte das terras, que fez doação de um terreno foreiro para o padroeiro, tentando desenvolver a comunidade.

Em 1938, a localidade passou a ser distrito de Caraúbas com o nome de Getúlio Vargas, mudando em 1943 para Janduís, em homenagem aos índios pioneiros da região.

Lendas do sertão e o turismo histórico
-

Igreja de Santa Terezinha, padroeira do município.

Numa terra seca, castigada por longas estiagens, distante 286 quilômetros de Natal, o município de Janduís está situado na região do Médio-Oeste, sertão do Rio Grande do Norte, às margens do pequeno rio “Adquinhon” ou “Rio das Croas”.

O município sofre com o calor nesses tempos de verão por causa do terreno baixo, situado entre as partes altas do Planalto da Borborema e da Chapada do Apodi.

Por que é necessário redescobrir a história que, recentemente, um grupo de estudantes encontrou inscrições rupestres na localidade conhecida como “Pedra da Biluqueza”, um forte atrativo para a exploração de um turismo de conhecimento e ecológico.

Do imaginário popular nasce as lendas da “Oiticica do Bode”, no caminho da cacimba que abastecia a cidade; e do “Serrote da Negra”, que conta a história de uma antiga escrava que morava numa Casa de Pedras e se transformou em serpente.

A noite em Janduís fica mais curta e mal-assombrada. Janelas e portas das casas mais humildes se fecham mais cedo para ouvir as histórias de Lázaro de Liuliu, um artista dedicado a fervilhar a cultura janduiense n’alma dos ouvintes, no recanto chamado “Canteiro das Artes”, aonde os pássaros e bichos talhados em madeira chegam para interromper a monotonia sertaneja, resgatando antigas brincadeiras de criança.

Em outubro, Janduís se adorna para celebrar sua padroeira, Santa Terezinha, quando a solidão das ruas e o ermo dos becos são quebrados pelas ladainhas dos devotos que acompanham o andor, arrastando a Santa até o altar.

Da Casa Grande da Fazenda São Bento, é possível ouvir o badalar do sino da matriz, avançando sobre os telhados da cidade e anunciando um sertão de lembranças.

Companhia teatral Ciranduis em atuação.

Casa mais antiga da cidade.

Entrada princilpal da cidade. Visão da torre da igreja.

Casa Grande da Fazenda São Bento, de Canuto Gurgel do Amaral, fundador da cidade.

Mercado Público Municipal.

Vista parcial de Janduís, vista da torre da igreja.